quarta-feira, 28 de abril de 2010

28/04/2010 - SAUDADES, UMA ORAÇÃO



ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE PALMA (MG).

Ando com saudades. De um tempo diferente do hoje.
Nostalgia.
Cheiro de terra molhada, cheiro de comida fresquinha feita no fogão de lenha, um silencio de doer os ouvidos, cortado apenas pelo cacarejar de galinhas no quintal que fica assim, embaixo da janela da sala. Cheiro de Minas. Cheiro de vó.
Vó Zezé. Vai ser difícil encontrar uma foto da velhinha, tão pequenina e silenciosa.
Pitando seu cigarrinho de palha. Coque no cabelo quase grisalho, vestido, meia e chinelo. Ajoelhadinha na cama, rezando um terço pra cada filho (eram muitos, mais de doze menos de quinze), a madrugada ia longe quando terminava...
O último deles com Down, era sem dúvida o mais amado. Companheiro de toda uma vida, preocupação e alegria, de toda uma jornada. Tio Geraldo,ou como ele gostava,Chicá.
Papai era o mais velho, o orgulho da família, aquele que veio cedo pra cidade grande e venceu na vida.
Como ele sentia o peso disto, agora eu sei.
Tinha que ser o maior e o mais forte, o provedor e o conselheiro.
Como se enchia de orgulho, como estufafa o peito, como falava grosso, virou até locutor!
Como ficou difícil admitir erros e fraquezas, como foi duro não dividir preocupações e medos.
Como não confiou em ninguém, nem em Deus. Porque se confiasse na bondade divina não precisava rezar e temer tanto. Rezava mais que padre, brincávamos.
Que estejam agora num bom lugar, papai e vovó Zezé. Eu os amei. Amén.

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